Uso combinado de ionômero de vidro e resina composta em restaurações classe V

Tratamento restaurador cervical utilizando como base o ionômero de vidro fotopolimerizável em cápsula e posterior realização das técnicas adesiva e aplicação de resina composta
A Odontologia moderna, apesar de todos os seus avanços, ainda apresenta alguns procedimentos que demandam cuidados específicos para aumentar a sua longevidade e diminuir a possibilidade do surgimento de efeitos colaterais.
As lesões cervicais de classe V são tratadas de formas distintas em função de sua etiologia. O diagnóstico oclusal, hábitos parafuncionais, qualidade de substrato amelo-dentinário, distúrbios gastro-esofágicos, técnica de higienização mal conduzida, falhas em restaurações anteriores, hábitos alimentares e lesões cariosas são exemplos da necessidade de integração multidisciplinar durante o processo de diagnóstico para a eleição do tratamento correto.


A dificuldade do cirurgião-dentista em interpretar esta interação gera em alguns procedimentos clínicos, resultados aquém do esperado em termos estéticos, funcionais e sintomatológicos.
A característica principal do substrato dentinário em lesões não cariosas é a esclerose intertubular que dificulta a ação do ácido fosfórico para criar as retenções mecânicas e os depósitos minerais intertubulares ácido resistentes que diminuem a área de hibridização diminuindo a incidência de tags. Este comportamento tem influência decisiva no sucesso clínico restaurador quando se trabalha exclusivamente na dependência do sistema adesivo.
Outro fator importante na manutenção das restaurações de classe V é o ajuste oclusal que tem por objetivo diminuir as forças conduzidas pela coroa até a região cervical onde estas são dissipadas. Da mesma forma que são gerados processos inflamatórios cervicais que propiciam reabsorções ósseas por estas forças, a zona de hibridização das restaurações desta região também sofre uma perda de eficiência. Sendo assim, o ajuste oclusal após reabilitação cervical direta é um grande aliado na busca da longevidade.
Os cimentos de ionômero de vidro foram introduzidos no mercado odontológico em 1975 com um grande apelo comercial baseado na liberação de íons de flúor. Com o avanço nas pesquisas, descobriram-se outras vantagens e utilizações deste material que, com a evolução obtida, apresenta excelentes propriedades para uso solo ou em técnicas combinadas com outros materiais. Uma delas foi a excelente adesão química entre os cimentos de ionômero de vidro e o substrato dentinário sem a utilização de ataque ácido.
Posteriormente verificou-se a semelhança do coeficiente de expansão térmica com a dentina, contração de polimerização menor que a da resina composta e uma excelente compatibilidade com tecidos pulpar e periodontal.


Sendo assim, a capacidade de selamento de superfície favorece o desaparecimento da hipersensibilidade dentinária.
Apesar de apresentar todas estas características positivas, os cimentos de ionômero de vidro não apresentam uma gama de cores necessárias para se atingir resultados estéticos em áreas onde a demanda pela biomimetização dos materiais é fundamental. Nestes casos é indicada a utilização de resinas compostas
associadas aos cimentos de ionômero de vidro para utilizarmos as melhores características dos dois materiais.
RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, 44anos, apresentou-se ao nosso serviço clínico com queixa principal de hipersensibilidade dentinária. Ao proceder os exames clínico-radiográficos, foi diagnosticado um quadro de lesão não cariosa generalizada com retrações gengivais significativas e perda de tecido dentinário cervical com aspectopolido (Abfração). A etiologia combinada por bruxismo noturno e técnica de higienização incorreta. Foi proposto o tratamento restaurador cervical com a técnica “sanduíche” utilizando como base o ionômero de vidro fotopolimerizável em cápsula e posterior realização das técnicas adesiva e aplicação de resina composta.

1 – Após isolamento relativo com afastador labial e roletes de algodão sob controle de umidade com sucção de alta potência, foi aplicada à superfície dentinária ácido poliacrílico (Riva Conditioner – SDI) por 10s. Após este tempo, foi lavada a região com jato de água e ar. A secagem foi feita utilizando-se o papel filtro com o objetivo de evitar o ressecamento excessivo.
2 – Selecionado o tipo de ionômero mais adequado a este tipo de restauração pela rapidez de aplicação e polimerização, aplica-se na área cervical dos elementos dentais evitando o contato com o esmalte ou com as bordas.
Procede-se a fotopolimerização por 20s em camadas de 2 mm.
3 – Para a aplicação da camada de resina composta, faz-se o ataque com ácido fosfórico a 37% por 20s em toda a área, lembrando que o ionômero de vidro já
está polimerizado. Este é o motivo pelo qual o material de escolha é o Riva Light Cure (SDI) em cápsulas. Lavagem e secagem com papel filtro novamente.
4 – Aplicação do adesivo (Stae) em 3 camadas com intervalo de 40s. Após a última camada, polimeriza-se por 20s e aplica-se a resina composta nanohíbrida (ICE).
5 – Polimento inicial com taças de borracha e após 48 horas com discos de lixa.

AUTORES

Dr Marcelo Rodrigues Alves
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